Da Rua ao Pódio: O Skate e a Batalha Contra o Estigma
Preconceito e Estigmatização no Skate: De Esporte Marginalizado a Ícone Global
O skate nasceu nas ruas e se desenvolveu como uma prática profundamente ligada à cultura jovem, rebelde e urbana. Desde os anos 1970 até hoje, ele enfrentou preconceitos e estigmatização, mas também passou por um processo de mudança que culminou em sua inclusão como esporte olímpico. Vamos voltar no tempo para entender como o skate passou de um símbolo de contracultura a um esporte respeitado mundialmente.
Anos 1970: A Rebeldia dos Primórdios
Nos anos 1970, o skate ainda estava em sua infância e era fortemente associado à contracultura. Os primeiros skatistas eram, na maioria das vezes, jovens buscando uma nova forma de expressão que fugisse das normas convencionais dos esportes tradicionais. Nessa época, o skate era visto como um "hobby perigoso" ou uma atividade de delinquentes, devido à associação com a rebeldia juvenil.
As origens do skate estão ligadas aos surfers californianos, que adaptaram suas pranchas para as ruas quando o mar não tinha ondas. As primeiras manobras eram feitas em piscinas vazias e nas ruas, o que resultava em conflitos com moradores e autoridades. A imagem do skatista rebelde e problemático começou a se formar nessa época, reforçada pela falta de reconhecimento oficial e pela ausência de infraestrutura adequada. Muitos viam o esporte(?) como uma ameaça à ordem pública, e não era raro que skatistas fossem expulsos de locais públicos ou multados por “perturbar a paz”.
Anos 1980: A Virada Cultural e o Domínio das Marcas Americanas
Os anos 1980 marcaram um ponto de virada crucial para o skate, tanto cultural quanto comercialmente. Foi nessa década que o esporte começou a ganhar popularidade mundial, graças ao surgimento de grandes marcas americanas que ajudaram a moldar a identidade visual e cultural do skate. Além de Powell Peralta e Vision Street Wear, outras marcas icônicas como Santa Cruz e Independent Trucks foram essenciais para definir a estética e a técnica do skate. A Santa Cruz, famosa por seus decks com gráficos arrojados e visual "punk", e a Independent, que produzia os trucks mais confiáveis da época, tornaram-se símbolos de qualidade e estilo dentro da cena skatista.
Marcas de tênis também desempenharam um papel fundamental. Vans, que havia começado nos anos 1960, tornou-se um verdadeiro ícone no mundo do skate nos anos 1980, com seu design de solado "waffle" que oferecia excelente aderência nas lixas dos shapes. A Airwalk também emergiu como uma das principais marcas de calçados voltados especificamente para skatistas, oferecendo um estilo robusto e resistente, ideal para o desgaste intenso das manobras.
Marcas que também patrocinavam os skatistas de forma profissional, tal qual qualquer atleta de ponta, fortalecendo o esporte e dando (tentando dar, rs, rs, rs) credibilidade ao esporte, afinal o atleta tinha o seu trabalho(ganho).
Essas marcas criaram um ecossistema próprio, influenciando não apenas o mercado, mas também o estilo de vida dos skatistas. Os produtos não eram apenas funcionais, mas carregavam em si a identidade de uma cultura urbana em ascensão. As marcas contribuíram para solidificar a imagem do skate como algo mais do que um esporte – era um movimento de expressão criativa e de atitude, com raízes profundas na contracultura.
Década de 1990 e 2000: Skate Entra na Cultura Pop
Nos anos 1990, o skate explodiu na cultura popular, impulsionado por jogos de videogame, como a franquia Tony Hawk's Pro Skater, e o aumento de vídeos de skate produzidos por skatistas e marcas. A música, especialmente o punk e o hip hop, também influenciaram fortemente a cultura do skate, tornando-o um ícone da juventude urbana.
Embora o esporte tenha ganho mais reconhecimento e mais marcas entrando fortemente no mercado, marcas como a és footwear, element, flip, enjoi entre outras, que realizavam e ou patrocinavam campeonatos e atletas de forma completamente profissional, infelizmente ainda, o preconceito não havia sido completamente superado. Skatistas continuavam sendo vistos com desconfiança, principalmente por praticarem em locais públicos e muitas vezes clandestinos. Ao mesmo tempo, o skate tornou-se mais diversificado, e sua cultura urbana e inclusiva começou a atrair jovens de diferentes origens sociais, rompendo barreiras culturais.
Nos anos 2000, a profissionalização do skate se consolidou com patrocínios maiores e competições mais estruturadas, como os X Games, que ajudaram a mudar a percepção do público sobre o esporte. O skate já não era apenas um hobby de rua; era uma modalidade atlética com atletas de alto nível. Ainda assim, a ideia de que o skate era "antissocial" ou uma prática marginalizada ainda estava presente em várias sociedades
Olimpíadas de 2021: O Reconhecimento Internacional e o Processo de Mudança
O grande marco para o skate aconteceu em 2021, quando foi incluído oficialmente nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Este foi um momento histórico para os praticantes e para a cultura do skate, trazendo uma nova onda de visibilidade e respeito ao esporte, permitindo que skatistas fossem finalmente vistos como atletas de elite.
No entanto, a inclusão olímpica não foi bem recebida por todos. Muitos skatistas "raiz", aqueles que praticam o esporte desde os seus primórdios ou que são fortemente ligados à cultura de rua e ao espírito original do skate, expressaram desconforto com essa mudança. Para eles, o skate sempre foi mais do que um esporte formal – é uma forma de arte, uma expressão de liberdade e resistência às convenções. A preocupação era que a inclusão nas Olimpíadas poderia "domesticar" o skate, transformando-o em um esporte excessivamente regulamentado e tirando a essência rebelde que sempre o definiu.
Essa reação reflete um dilema comum nas subculturas que, ao ganharem reconhecimento oficial, correm o risco de perder parte de sua identidade original. Para esses skatistas, o skate nas Olimpíadas poderia significar a comercialização de algo que sempre foi profundamente ligado à rua, à criatividade sem limites e à cultura underground.
Por outro lado, muitos skatistas, especialmente as novas gerações, abraçaram a ideia, vendo nas Olimpíadas uma oportunidade de dar mais visibilidade ao esporte e conquistar o respeito que sempre lhes foi negado. A participação de skatistas como Rayssa Leal, com apenas 13 anos, ajudou a mostrar que o skate pode manter sua autenticidade mesmo em grandes palcos internacionais, sem perder seu espírito.
O Skate Hoje: Um Esporte em Evolução, mas Ainda Desafiador
Apesar desse debate interno, a inclusão olímpica foi um marco para o skate, mas o esporte ainda preserva suas raízes de contracultura e resistência. Em muitos lugares, a luta por espaços públicos e contra o preconceito ainda continua. No entanto, a expansão do skate para novas audiências e sua diversidade crescente mostram que o esporte está em constante transformação, equilibrando seu espírito original com o reconhecimento global.
O Skate em constante Transformação
O skate percorreu um longo caminho desde os anos 1970, quando era visto como um esporte de "marginais". Hoje, ele é uma modalidade olímpica, mas ainda enfrenta desafios relacionados ao preconceito e à estigmatização, especialmente em regiões com menos infraestrutura. No entanto, o processo de mudança está em curso, e o skate continua a crescer, com cada vez mais praticantes e uma cultura global vibrante que atravessa fronteiras.